Crato, 4 de Outubro de 2010, o sol mal tinha aparecido no horizonte.
7.50 a.m. – Roubaram a Câmara!! Virgem Maria!! Balbuciou entre a angústia da dúvida e o medo da culpa, a mulher da limpeza.
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8.05 a.m. – Assaltaram a Câmara, tentou justificar-se, perante a consorte, o vereador, na sua brusca saída da cama, meio enrolado e sonolento, por entre impropérios e mastigatórios, na tentativa vã de se libertar daquele ardor bucal a papeis de música e achar o maldito telemóvel para alertar a GNR do posto local, de serviço permanente (será). “Valeu a pena, andar com a trabalheira de mandar o encarregado mudar as fechaduras todas, só podem ser da loja dos trezentos, este gajo nunca faz nada de jeito” tentou consolar-se.
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8. 13 a.m. - Assaltaram a Câmara? Titubeou, incrédulo, o único elemento da GNR presente, no posto territorial do Crato, àquela hora.
Como me vou desenrascar? Pensou… se abandono o posto e vou até lá abaixo, quem me diz que não o vêm assaltar... e depois quem paga as favas sou eu. O Comandante não aparece tão cedo, tem horário de funcionário público, os outros andam nas ”voltas”… nem o pit bull cá está; raio, tinha que sobrar para mim.
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8.55 a.m. Está constituído o pelotão de elite e observação às instalações vandalizadas: Na frente, devidamente ataviado, o “único GNR existente no posto àquela hora”, numa mão a lanterna na outra a pistola, logo atrás o vereador, meio despenteado e remeloso de telemóvel em punho,na mão esquerda , por fim, fechando a força de intervenção, a mulher da limpeza de esfregona em riste,na mão direita, não vá o diabo tecê-las. "Atenção! Só pisem onde eu pisar para não apagar as pegadas e não ponham as mãos em nada, mesmo se tropeçarem e virem que vão cair", instruiu, como vira fazer ao comandante ausente, o “único GNR presente, no posto, àquela hora”.
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8.59 a.m. Levaram a Nossa Senhora! Exclamou, ente o incrédulo e a angústia, a mulher da limpeza.
Roubaram a República! Gritou, com voz apavorada o vereador. Qual senhora, mulher, é a democracia no Crato, sentenciou com ares filosóficos, qual Teófilo de Braga do século XXI, mas sem bigode.
Roubaram a República! Gritou, com voz apavorada o vereador. Qual senhora, mulher, é a democracia no Crato, sentenciou com ares filosóficos, qual Teófilo de Braga do século XXI, mas sem bigode.
Roubaram a democracia, no Crato, rascunhou, como participação, o “único GNR presente, no posto àquela hora”, num papel, meio amarrotado, apanhado ali à mão, já que com a pressa, trouxera o livro dos calotes do bar, em vez do livro dos autos.
Refeita da surpresa, e rebuscando na memória, a mulher da limpeza esclareceu que afinal a “re…essa figura de nome esquisito” não fora roubada, apenas havia saído do seu sitio habitual, por causa do feriado, para uma sala da biblioteca.
Porra! A Reacção não passará, afinal a república (das bananas) continua no Crato! Gritou o vereador com orgulho, erguendo a mão direita, que era a que tinha devoluta, mais ao pé.
Perante tal reviravolta, na ocorrência criminal, o “único GNR presente, no posto àquela hora”, riscou e acrescentou, a modo de com ares de juiz desembargador, no auto improvisado, no papel amarrotado:
-Há a registar oitenta cêntimos, extorquidos, com violência, à máquina do café.
O Orçamento Municipal foi severamente delapidado; que cambada de ladrões! No Crato, a democracia não foi roubada, mas foi reformada, temporariamente, para parte incerta.
O Orçamento Municipal foi severamente delapidado; que cambada de ladrões! No Crato, a democracia não foi roubada, mas foi reformada, temporariamente, para parte incerta.